sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

KARL RAHNER (1904-1985)

Um dos maiores teólogos católicos do século XX, Karl Rahner nasceu em Freiburg, na Alemanha, em 1904. Foi sacerdote jesuíta, ordenado em 1932. O teólogo Karl Rahner, foi um dos mais importantes e criativos teólogos da tradição católica no século XX, teve um papel fundamental no incentivo à abertura da igreja católica-romana às diversas tradições religiosas.

Foi um dos principais assessores teológicos do Concílio Vaticano II. Em 1965 fundou a «Concilium», revista internacional de Teologia, com a colaboração de Yves Congar e Edward Schillebeeckx. Foi um pensador que influenciou muitos teólogos. Segundo muitos teólogos "todos bebemos em Rahner". O pensamento teológico na atualidade "é devedor, mas em profundidade, à reflexão deste alemão". O projeto de auto-comunicação de Deus; a relação da Antropologia com a Cristologia e a Igreja e o espírito são pontos essenciais da reflexão de Karl Rahner. Rahner estudou na universidade de Freiburg e acompanhou os cursos de Martin Heidegger, uma das influências decisivas na sua formação (outras influências importantes seriam Kant e o jesuita belga Joseph Maréchal).Karl Rahner passou a maior parte da sua vida ensinando teologia sistemática em cidades como Innsbruck e Munique. Deixou uma obra vastíssima, que inclui as "Investigações Teológicas", em 14 volumes. Karl Rahner faleceu em 1985.

Karl Rahner foi profundamente ligado à renovação da teologia católica e da Igreja. Desde 1948 foi professor de teologia dogmática em Innsbruck. Posteriormente lecionou também teologia nas Universidades de Munique e Münster. A partir de 1964, e durante três anos, participou dos trabalhos da comissão teológica do Vaticano ll, dando ao mesmo tempo cursos sobre a concepção cristã do mundo na Faculdade de Filosofia de Münster, onde sucedeu Romano Guardini. A aposentadoria de Rahner, em 1971, não interrompeu sua atividade científica e pastoral, já que continua sendo membro ativo do Sínodo Nacional da Alemanha.

Sua obra insere-se na corrente filosófica alemã de Heidegger, de quem foi discípulo, e nutrese do pensamento teológico alemão tanto católico quanto protestante. É uma teologia aberta e profundamente tradicional, mas fortalecida com um novo alento de vida e cultura moderna. Sua numerosa produção vai de 1941 a praticamente seus últimos dias, em 1985. Cabe assinalar as seguintes obras: Ouvinte da palavra (1941); Visões e profecias (1952); Liberdade de palavra na Igreja (1953); Missão e graça (1959); Cristologia (1972); Mudança estrutural da Igreja (1973); Curso fundamental da fé (1976). Muitos de seus escritos foram coletados nos Escritos de Teologia (1954-1975) e na coleção “Quaestiones disputatae” (iniciada em 1958). Dirigiu também as obras enciclopédicas Sacramentum mundi (1969) e Manual de teologia pastoral (1971-1972).
Dessa abundante obra destacamos sua doutrina mais original, e que divulgou o que se conhece como “cristianismo anônimo”. Para ele, cristão é todo aquele que “choca com o mistério”. Quanto mais o homem se coloca questões fundamentais e se aprofunda na experiência da vida ou utiliza seus conhecimentos científicos, mais se adentra no mistério: “é o mistério que chamamos Deus”.
Pois bem, “o cristão anônimo”, tal como o entendemos, é o pagão que vive depois da vinda e pregação de Cristo, em estado de graça através da fé, da esperança e da caridade, embora não tenha conhcecimento explícito do fato de que sua vida é orientada pela graça salvadora que leva a Cristo... "Deve haver uma explicação cristã que dê conta do fato que todo indivíduo que não opera em nenhum sentido contra a sua própria consciência e diz realmente em seu coração ‘Abba’ com fé, esperança e caridade, é na realidade aos olhos de Deus um irmão para os cristãos” (Escritos de teologia).

Sua idéia, seguida hoje por muitos outros teólogos, de que existam “cristãos anônimos” sem compromisso religioso algum, é altamente sugestiva. “Cristão anônimo é aquele que aceita a si mesmo numa decisão moral”, ainda quando tal decisão não se faz de uma forma “religiosa” ou “teísta”. Justificaria o chamado “cristianismo secular” ou “cristianismo horizontal” tal como o formulou a Assembléia de Upsala (1964) e tal como o formula a Teologia da Libertação. Pode-se ser cristão sem referência a nenhum elemento religioso. E a Igreja fica como comunidade missionária sem nenhuma pretensão ou pressão social e política.

Segundo Karl Rahner, o homem é o ser "ouvinte da Palavra". Por sua dimensão espiritual, o homem está receptivo a uma possível revelação divina, que lhe explique e dê significado ao mistério da Existência e do Ser.

O homem é o único ser, que pergunta-se pelo mistério e o sentido da Existência e do Ser, e isso devido a sua dimensão espiritual: o homem é espírito. Por ser espírito, o homem está receptivo e a procura de uma explicação para o Mistério; o homem é um "ouvinte da Palavra"; ele contém um a priori cognoscitivo, que é essa abertura para uma possível revelação divina; o homem é o ser à espera da manifestação de Deus.

A revelaçao é uma auto-manifestação de Deus, é uma auto-revelação; e essa auto-comunicação de Deus responde e vem ao encontro da "abertura" ou "receptividade" humana que está à procura e à espera de uma resposta válida e coerente para suas perguntas sobre o Ser e a Vida.

Assim como Kant estabeleceu os a prioris que permitem o homem chegar ao conhecimento da ciência e do mundo; Rahner estabeleceu os a prioris que permitem ao homem chegar ao conhecimento de Deus e da teologia.

O a priori de Rahner, consiste nessa abertura e receptvividade do homem para com o Mistério. O Mundo, o Ser e a Vida são mistérios e interrogações que colocam-se diante do homem, e o homem está a espera de uma Palavra, uma Revelação, que lhe dê sentido e explicação sobre essas realidades misteriosas; por isso o homem é um "ouvinte da Palavra". O homem está à escuta da Palavra que lhe dê a resposta apaziguadora; essa Palavra é a auto-comunicação de Deus. Cristo é justamente essa auto-revelação e auto-manifestação de Deus. Em Cristo, Deus se auto-revela e se auto-comunica aos homens, dando-lhes a resposta que eles procuram e buscam.

A teologia de Rahner é chamada de "transcendental", pois parte da dimensão do mistério da Vida e do Ser. É diante do mistério da Vida e do Ser, que o homem pergunta-se pelo sentido e significado das coisas; é a partir desse mistério, que o homem está a espera de uma revelação.

Como outros teólogos, Rahner recebeu vários “monitum”. Sua teoria do cristianismo anônimo, aberto a todos e não monopolizado pela Igreja — um cristianismo disperso e arraigado em todo o mundo, um cristianismo sem fronteiras, fruto da graça de Deus oferecida acima de todas as categorias humanas — foi posta em questão. “A teologia não é um assunto privado e, submetida ao Magistério da Igreja, inclusive em sua tarefa de pesquisa, não pode esconder-se atrás de uma liberdade acadêmica” (Paulo VI, 1975). Não obstante, permanece o mais valioso de sua doutrina: o diálogo constante mantido com o homem moderno, com a sociedade e suas condições. A teologia terá de fazer o possível para não se desentender com eles.

PENSAMENTOS DE KARL RAHNER

"Maria é a concreta realização do perfeito cristão. Maria é como nós. Jesus Cristo é outrossim um como nós. Mas ele também é Deus. Maria é que é inteiramente uma entre nós. O que ela é nós devemos ser. É por isto que Maria é-nos tão familiar. É por isso que nós a amamos".

"Deus age através de Causas Segundas. É Ele a Causa Primeira que dá origem e sustenta a cadeia de todas as causas segundas que movem o mundo. Mas não é, Ele mesmo, um elemento do mundo, como se fosse apenas uma causa segunda entre as outras. Deus, em sí mesmo, não é uma engrenagem do mundo".

"A condição criada do mundo é relação absolutamente única, só ocorre uma vez. Criação e condição de criatura não indicam apenas o primeiro momento da existência de um ser temporal, mas significam, em última análise, a constituição desse ser existente e do seu tempo, constituição essa que não entra no tempo mas é o fundamento da criatura, e do próprio tempo."

"O homem deve ser entendido como a possibilidade de ser assumido por Deus, de tornar-se o material de possivel história de Deus. Deus planeja o homem de modo criador, tirando-o do nada, e o coloca em sua realidade de criatura, diferente de Deus, mas como a "gramática" de possivel auto-expressão de Deus. A humanidade de Jesus Cristo não é mera aparência de Deus. Também não é Ele um mero profeta, mas o próprio Deus. Em consequência, manifesta-se como herética qualquer idéia da encarnação que considere a humanidade de Jesus como se fosse apenas uma "roupagem" revestida por Deus, de que ele apenas se servisse para assinalar sua presença quando fala. Quem aceita inteiramente o seu ser homem, acolheu o Filho do Homem porque, neste, Deus acolheu o homem. Ao dizer a Escritura que quem ama o próximo cumpriu a Lei, trata-se aí da verdade última, uma vez que o próprio Deus tornou-se este próximo e, desta sorte, em todo o próximo, sempre é acolhido e amado aquele que é simultaneamente o mais próximo e mais longínquo: Deus. A realidade humana de Deus em Jesus Cristo permanece para sempre, eternamente..."

"A descoberta do Coração de Jesus na fé, na esperança e na caridade, é um longo e aventureiro caminho, pleno de imprevistos; uma viagem da qual não se vê o fim senão quando se acaba por entrar no seu próprio coração, para aí descobrir que esse horrível fosso está pleno do próprio Deus".

"A tarefa mais urgente de uma Cristologia de hoje consiste em formular o dogma da Igreja - 'Deus é (tornou-se) homem, e este Deus que se fez homem é o Jesus Cristo concreto' - de modo a tornar compreensível o que estas proposições significam e em excluir toda a aparência de uma mitologia que se tornou inaceitável hoje".

"O cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão".

"Se a ressurreição de Jesus é a vigência permanente de sua pessoa e sua causa, e se esta pessoa-causa não significa a sobrevivência de um homem e de sua história, mas o triunfo de sua pretensão de ser o mediador absoluto da salvação, então a fé na sua ressurreição constitui um momento intrínseco dessa ressurreição e não a tomada de consciência de um fato que por sua natureza poderia existir exatamente o mesmo sem ser conhecido. Se a ressurreição de Jesus há de ser a vitória escatológica da graça de Deus no mundo, não é possível concebê-la sem uma fé efetiva (ainda que livre) nela, uma fé na qual culmina a própria natureza da ressurreição".

7 comentários:

Bárbars disse...

Excelente artigo, estou fazendo pós-graduação em Teologia e gostei muito deste artigo.
Parabéns.

Daniel disse...

Muito bom o texto!
Parabéns!

marquito disse...

Gostaria de ter acesso ao livro Curso Fundamental da Fé, de Karl Rahner, que só existe no Brasil! Alguém me pode ajudar?
Obrigado

marcbasi@hotmail.com

Luiz Carlos disse...

Eu acho um absurdo falar em cristão anonimo a teologia de Rahner, é uma teologia bastante envolvida pela modernidade e esquece o essencial, que é a tradição da igreja, e o prorpio ensinamento de Cristo nao tem a base no evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.É uma teologia que tem mais base no pensamento moderno que no pensamento da igreja, o que inadmissível para um teologo que se diz catolico.

Unknown disse...

Muito bom mesmo...tenho que fazer um resume,do cristão anônimo,estou aprendendo muita coisa...

Orlando Pereira disse...

Essa palavra "herege" me dá até arrepios. Porque quem a menciona, geralmente é um grande fundamentalista.

Unknown disse...

Na modernização e mais traduzir as palavras e o pensamento dos profetas para que as pessoas sejam esclarecidas sem mudanças conforme a igreja tradicional.