Yves Congar foi um dos grandes teólogos do Concílio Vaticano II e autor de uma obra ecumênica e teológica considerável.
Yves Congar é um teólogo dominicano francês, nascido em Sedan, em 1904. Foi ordenado em 1930. Esteve preso em 1940-1945 nos campos de concentração de Golditz e Lübeck. Foi fundador e diretor da coleção Unam Sanctam, e professor de teologia na faculdade de Le Saulchoir. Foi um sólido eclesiólogo, aberto ao ecumenismo e à reforma da Igreja, precursor e consultor do Concilio Vaticano II.
Professor em La Saulchoir, o seu livro "Verdadeira e falsa reforma de Igreja" foi objeto de duras censuras. O seu apoio aos curas obreiros e a sua solidariedade com a causa da justiça social não fez mais que complicar a súa situação. Durante 10 anos é afastado do ensino, sancionado, marginalizado de toda atividade pública e tem que exilar-se a Jerusalém. Surpresamente, João XXIII lhe encomendará trabalhar nos mais importantes documentos do Concilio Vaticano II, junto com outros teólogos naquele momento considerados aberturistas como Joseph Ratzinger ou Henri de Lubac.
Como compensação pela incomprensão que sofreu e aos anos de sofrida obediencia e silenciamento Congar foi elevado à dignidade cardinalícia por João Paulo II em 30 de outubro de 1994, recebendo o barrete de cardeal em 8 de dezembro do mesmo ano.
Vítima de uma enfermidade neuronal acabou os seus días impedido fisicamente porém intelectualmente ativo. Yves Congar faleceu em 1995, em Paris.
Entre suas obras, cabe destacar Verdadeira e falsa reforma da Igreja (1950), Jalones para una teología del laicado (1954), Cristãos em diálogo (1964), Tradição e tradições (1961-1963) e O Espírito Santo (1980). Congar é a ponta de lança de uma equipe numerosa de teólogos dominicanos franceses que renovaram a teologia católica ao longo dos últimos cinqüenta anos. Basta citar teólogos como Chenu, Liégé, Lelong, Cardonnel, Schillebeeckx etc.
Duas atividades fundamentais ocupam a vida de Congar:
1. O estudo da Igreja sob todos os seus aspectos. Fruto desse estudo são seus primeiros Ensaios sobre o mistério da Igreja (1952); Verdadeira e falsa reforma da Igreja (1950) onde ataca, pela primeira vez, o tema da reforma da Igreja; Balizas para uma teologia do laicato (1953), onde aborda o tema dos leigos na vida e na atividade missionária da mesma Igreja. Em 1964, formula os princípios do diálogo entre as diferentes Igrejas cristãs com Cristãos em diálogo, continuação de obras anteriores como Cristãos desunidos e Princípios para um ecumenismo católico (1957). Complemento e expressão de seu trabalho e estudo sobre o tema da Igreja é a grande coleção sobre teologia da Igreja, “Unam Sanctam”, fundada e dirigida por ele.
2. Mas Congar não tem sido apenas um homem de estudo; mas, fundamentalmente, o homem que “preparou o clima do Concílio Vaticano II”. Como teólogo do Concílio, influenciou decisivamente nos novos enfoques da teologia, na preparação de novos teólogos e, finalmente, na redação e orientação dos documentos do Concílio Vaticano II, de um modo especial, a Constituição Dogmática sobre a Igreja, A Igreja no mundo de hoje e o documento sobre o Ecumenismo. O mesmo Papa Paulo VI agradeceu publicamente a Congar pela sua colaboração ao Concílio Vaticano II.
Congar utilizou o método especulativo, próprio da escolástica como método histórico. Buscou uma aproximação com o protestantismo afirmando que a Biblia é regra para a Tradição e para a Igreja. Pero sustenta que é sob a luz da Tradição e na proclamação na comunidade eclesial que a Escritura adquire o seu sentido.
Nos seus estudos sobre o Espírito Santo, parte dos escritos dos Pais da Igreja gregos como Atanasio de Alexandría e Basilio o Grande com fim de aproximar-se a posições aceitáveis para a Igreja ortodoxa, e une, como esta, eclesiología e pneumatología. Para Congar o Grande Cisma, desde o ponto de vista dogmático é fruto de perspectivas filosóficas diversas, porém expressan uma mesma fé.
Congar enfatiza que a Igreja é santa, não em sí mesma, ou como qualidade dos seus membros, senão como ámbito da presença de Deus que se aproxima da mesquinhez e miseria humana (pecado), presente na comunidade eclesial. A extensão da vida divina é gratuíta (graça) sem mérito por parte da hieraquía e dos fieis que participam dela.
No que atinge à catolicidade, esta há de consistir na capacidade da Igreja de assimilar e desenvolver os valores auténticos humanos e culturais, tanto de outras igrejas, como de outras religiões e de todas as culturas.
Busca também fazer fincapé na relação fundamental dos leigos, através do seu compromiso com as causas justas da humanidade. A salvação cristã assume e engloba a libertação social, política, económica, cultural e pessoal dándo-lhe totalidade e plenitude na trascendencia. Aquí o compromisso, desde um imperativo cristão orientador, ha de ser radical, porém as opções do crente podem ser opináveis e faliveis e, logo, plurais.
A Congar preocupa o papel da hierarquía na Igreja e não oculta críticas sinceras. Os bispos, para éle estão encurvados absolutamente na passividade e o servilismo a Roma. Defende um conceito profundo e radical de obediencia frente ao simplismo insincero tipo autoridade-súdito.
A atividade de Congar continuou depois do Concílio: Situação e tarefas atuais da teologia (1967) e A Igreja desde Santo Agostinho até a época moderna (1970) são contribuições geniais deste homem que, já numa cadeira de rodas, confessava que sua teologia não vale mais do que a vida de um simples cristão em pé.
PENSAMENTOS DE YVES CONGAR
“Diz-se que a Igreja não interessa mais a ninguém, que a maioria dos homens deixou de esperar dela algo que tenha o peso do real. Isso não é exato. Uma decepção dá a medida de uma esperança, um despeito a medida de um amor. Se não se esperasse mais nada da Igreja, não se falaria tanto dela...”
"Vocês não deveriam dizer que um sapateiro fabrica sapatos; mas, sim, que ele calça os cristãos... 'Fabricar sapatos' indica apenas a profissão e insinua que o único objetivo do fabricante é seu lucro pessoal".
"Aqui está o que Jesus nos deixa: o Espírito e a Noiva. Tal como Eva foi formada a partir do lado de Adão que dormia, assim o foi a Igreja, a nova Eva, formada pelo lado de Cristo crucificado. Em ambos os casos, os símbolos significaram a unidade de duas pessoas chamadas para formar uma única carne, um único corpo, no amor dos esposos destinado para a fecundidade da maternidade"
"Toda vida cristã é fundada na possibilidade melhor, na realidade de um apelo (…). Esta possibilidade de ouvir um apelo e de responder-lhe atualiza-se no máximo na conversão. O homem é capaz de modificar-se, de dar outra direção, outro sentido a sua vida (…). É, em dúvida, por isso que Jesus reconhece uma espécie de primazia para o pecador: é sempre ao vazio e ao defeituoso que ele se dirige; é somente o pobre que ele quer enriquecer. Mas, no fundo, é o único que pode ser enriquecido, porque ‘não são os que tem saúde que precisam de médico, mas os doentes’".
"O sábado era o dia da criação terminada e, por isso, é o sétimo e último dia; era a festa e o repouso do homem criado a imagem de Deus e constituído assim seu colaborador pelas suas obras; ele referia-se aos dias úteis que cumulava pelo repouso, pelo louvor, pela ação de graças. O domingo é a celebração, a aplicação ou a separação da nova criação, a dos filhos e já não a dos servos, que a ressurreição de Cristo inaugura. Por isso o domingo não está, como o sábado estava, em relação direta com os outros dias da semana ; por isso, a interrupção do trabalho se torna um elemento relativamente secundário: o domingo não é uma festa desta criação, pertence à criação nova, a do Filho, cujo princípio é este Espírito vivificador que é a realidade própria dos últimos tempos e do qual se disse que não tinha sido totalmente dado enquanto Jesus não fora glorificado.
Assim, o domingo já não é o sétimo dia, o dia do repouso do trabalho deste mundo, mas o primeiro, ou então o oitavo, e recebeu nomes sensivelmente equivalentes para marcar que era o início de uma nova semana, se um novo mundo e, para além da consumação cósmica, o princípio da vida eterna, que é a dos filhos de Deus, dos que vivem a vida eterna n'Aquele que, ressuscitado dos mortos, vive doravante “para Deus” (Rm 6,10).
Na medida em que os fiéis participam deste mistério, têm já em si a vida, a vida eterna, a vida filial e bem-aventurada; mas esta vida está escondida com Cristo em Deus e espera a manifestação dos filhos de Deus".
“A Palavra e sacramentos têm, aliás, uma união orgânica: a pregação é litúrgica e a celebração deve ser profética, toda esclarecida espiritualmente pela palavra, comunica seu sentido à fé dos fiéis. Mas, destas duas formas do Pão da vida, a Palavra é logicamente a primeira”
"No Evangelho, palavra e sinais caminham juntos. O sinal não toma todo o seu valor de sinal senão iluminado pela palavra”.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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