terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

BERNARD LONERGAN (1904-1984)

Bernard Joseph Francis Lonergan nasceu em 17 de dezembro de 1904 em Ontário, no Canadá. Foi um padre jesuíta canadense. Ele foi um filósofo e teólogo de tradição tomista e também um economista, formado em Buckingham, Quebec. Lonergan era professor do Colégio Loyola, de Montreal, da Universidade de Toronto (Regis College), da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Harvard e do Boston College. Durante vários anos as suas idéias foram estudadas nas mais variadas áreas do saber: ciências naturais, economia, sociologia, filosofia e teologia.

O seu pai era um engenheiro de ascendência irlandesa, e a família da mãe era inglesa. Aos 13 anos, trocou a casa pela Faculdade de Loyola, uma escola jesuíta em Montreal, e de lá entrou para o noviciado na cidade de Guelph. Frederick Crowe, S.J., diretor emérito do Instituto Lonergan, da Universidade de Toronto, descreve os primeiros anos de aprendizagem de Lonergan, esse estranho mundo anterior ao Concílio Vaticano II. Havia, diz, «leituras sobre a vida de Cristo e dos santos, a Imitação de Cristo, sobre documentos jurídicos e espirituais jesuítas, o velho fiel Afonso Rodriguez, a prática da perfeição e virtudes cristãs. Havia as instruções do mestre aos noviços... as "exortações" pregadas por austeros sacerdotes na comunidade, e assim por diante. Havia as penitências, publicação das faltas - admitidas voluntariamente ou indicadas pelos companheiros em ágapes transbordantes - e havia muita oração... a mais lenta de todas as práticas a aprender».

Era uma vida que ensinava a paciência, a disciplina, e o estudo sério, embora de modo um pouco rígido e restritivo; serão marcas do trabalho de Lonergan. Em 1926, Lonergan foi para Inglaterra estudar filosofia, regressando ao Canadá para ensinar na sua velha escola, em Montreal. De 1933 a 1937 licenciou-se em Teologia em Roma. Não tinha sido um aluno premiado, mas desenvolveu em Roma as ambições intelectuais exemplificadas por uma carta de 1935 a um superior: «Consigo elaborar uma metafísica tomista da história que ofuscará Hegel e Marx, apesar da enorme influência deles nessa obra. Tenho já escrito um esboço, disso como de tudo o mais. Examina as leis objetivas e inevitáveis da economia, da psicologia (ambiente, tradição) e do progresso... para encontrar a síntese superior destas leis no Corpo Místico.» Hegel e Marx, não eram exatamente leituras recomendadas para um jovem sacerdote em Roma e, ainda mais, na Itália fascista. Mas fica bem claro como ele era já o indivíduo audaz, capaz de pensar sem imprimatur. E também fica claro que o corpo místico de Cristo, é desde S. Paulo, um dos conceitos mais integradores da teologia.

A originalidade do seu trabalho está sobretudo em ter proposto, através de um profundo estudo da mente em ação, um método de inter-relação entre todos estes ramos do saber e da experiência humana.

“Sê atento, sê inteligente, sê razoável e sê responsável”. São os traços que marcam, para Lonergan, a atitude fundamental da pessoa que é autêntica. Máximas do gênero "Trata os outros como queres ser tratado" não podem, em última análise, ser fundamentais porque não há uma máxima superior que nos leve a aderir a elas. Nem tão pouco as autoridades nos podem dar os nossos valores últimos, porque não há uma autoridade superior que nos diga que autoridades seguir. O que Lonergan nos diz é, no fundo, que todos nos guiamos por critérios como “sê atento, sê inteligente, sê razoável e sê responsável”, independentemente do modo como se manifestam em nós, e é por eles que escolhemos as máximas e as autoridades pelas quais reger a nossa vida.

Toda a originalidade de Lonergan, reside em oferecer um instrumento hermenêutico da consciência humana que permite elaborar uma nova interpretação tanto do trabalho do teólogo quanto do objeto da teologia.

O seu método empírico generalizado clarifica as operações que se dão no sujeito no que diz respeito à escolha de valores. É uma busca das normas morais inatas e de um possível sentido para a objetividade moral. Num mundo em que há tanta incompreensão e diversidade cultural, ética, etc, Lonergan parte do pressuposto de que o desenvolvimento da verdadeira moralidade só será possível se os jogadores "puserem as cartas na mesa".

Este método dá-nos a possibilidade de conhecer as categorias explicativas da nossa moralidade e do nosso modo de valorizar, o que nos permite conceptualizar o que se passa em nós a nível de valores, e também justificar perante os outros as nossas opções fundamentais, como por exemplo a nossa fé.

Profundo conhecedor do pensamento de Tomás de Aquino, sempre pessoal e original na sua interpretação, tem brindado o público com obras de grande valor. Uma das suas principais obras é: Insight: A Study of Human Understanding (1957). O "Insight" é um ponto de partida para a metafísica, é uma nova concepção da metafísica, é uma introdução à Teologia, é como diz o seu título, "um estudo do conhecimento humano". Analisando outras correntes filosóficas ou discorrendo sobre ciências físico-matemáticas e sobre psicologia profunda, Lonergan evidencia uma cultura científica impressionante, pouco comum num filósofo, e menos ainda, pela própria natureza das coisas, num professor de Teologia Dogmática.

Bernard Lonergan faleceu em Pickering, perto de Toronto, em 26 de novembro de 1984.

Lonergan é autor, entre outras obras, de Insight: A Study of Human Understanding (1957) e de Method in Theology (1973), trabalhos que estabeleceram os lineamentos daquilo ele denominaria Método Empírico Generalizado (Generalized Empirical Method - GEM).

PENSAMENTOS DE BERNARD LONERGAN

"A dificuldade surge na segunda etapa, a expansão básica. Os moralistas responsabilizam a ganância, a avidez. Mas a causa principal é a ignorância. Poucos percebem e poucos ensinam a dinâmica da produção. E quando as pessoas não compreendem o que está a acontecer, não se pode esperar que actuem de modo inteligente. Quando a inteligência desaparece, a primeira lei da natureza é a auto-preservação. São esses esforços frenéticos que transformam a recessão em depressão, e a depressão em falência."

“Ser enamorados por Deus, enquanto experiência, é ser enamorados de uma maneira que não conhece limite algum. Cada amor é doação de si, mas ser enamorados por Deus é ser enamorados sem limites, nem restrições, nem condições, nem reservas. Como a nossa capacidade ilimitada de questionar constitui a nossa capacidade de auto-transcendência, assim o ser enamorados de forma ilimitada constitui o cumprimento próprio de tal capacidade”.

“Na assimilação do passado dá-se a primeira busca, que descobre e torna disponíveis os dados. Há uma teologia ‘in oratione recta’ na qual o teólogo, iluminado pelo passado, enfrenta os problemas do seu tempo”.

“Assim como alguém levanta espontaneamente o braço para golpear a cabeça de alguém, pode espontaneamente estender o braço para alcançar e salvar alguém da queda. Percepção, sentimento e o movimento corporal são envolvidos, mas a ajuda dada a outra pessoa não é deliberada, mas espontânea. Alguém só se dá conta disso não antes mas durante o fato. É como se ‘NÓS’ assumíssemos ser membros uns dos outros antes de nossas distinções nos afastarem uns dos outros”.

“Existe o amor da intimidade, do marido e da mulher, dos pais e dos filhos. Existe o amor aos próprios semelhantes, que tem como fruto a realização do bem-estar humano. Existe o amor de Deus com todo o próprio coração e com toda a própria alma, com toda a própria mente e com todas as próprias forças (cf. Mc 12,30)”.

“O significado dessas declarações (infalíveis) da Igreja vai além das vicissitudes do processo histórico humano. Mas os contextos em que tal significado é colhido e, portanto, o modo em que tal significado é expresso, variam tanto segundo as diferenças culturais como segundo o grau de diferenciação da consciência humana”.

“A especialização funcional da fundação determina que concepções representam as posições que procedem da presença da conversão intelectual, moral e religiosa e que concepções representam as contraposições que revelam ausência de conversão. Em outras palavras, cada teólogo julgará da autenticidade dos autores das várias concepções e o fará sobre a pedra de toque que é a própria autenticidade”.

“As doutrinas da Igreja e as doutrinas teológicas pertencem a contextos diferentes. As doutrinas da Igreja são o conteúdo do testemunho da Igreja a Cristo; elas exprimem o conjunto dos significados e valores que informam a vida cristã, individual e coletiva. As doutrinas teológicas fazem parte de uma disciplina acadêmica, que se fixa no objetivo de conhecer e compreender a tradição cristã e de favorecer seu desenvolvimento. Como os dois contextos dirigem-se para fins bem distintos, assim também são desiguais quanto à extensão. Os teólogos levantam muitas questões que não são mencionadas nas doutrinas da Igreja. E também os teólogos podem diferir entre eles, mesmo pertencendo à mesma Igreja”.

“A teologia medieval voltou-se para Aristóteles em busca de um guia e um auxílio tendo em vista esclarecer o próprio pensamento e torná-lo coerente. Segundo o método por nós proposto, a fonte do esclarecimento de base será a consciência segundo a diferenciação interior e segundo a diferenciação religiosa”.

“A purificação das categorias... é efetuada na medida em que os teólogos alcançam a autenticidade mediante a conversão religiosa, moral e intelectual. Não se deve esperar a descoberta de qualquer critério, experimento ou controle ‘objetivo’. Semelhante significado de ‘objetivo’ não passa na realidade de uma ilusão. A genuína objetividade é fruto da subjetividade autêntica. Buscar e usar qualquer sustentação ou muleta como alternativas conduz invariavelmente, em uma ou outra medida, ao reducionismo”.

3 comentários:

Maria-Portugal disse...

obrigada,Gil,por continuares

Charles Maciel Vieira, Pr. disse...
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_ disse...
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