terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

VLADIMIR LOSSKY (1903-1958)

Vladimir Lossky é filho do célebre filósofo russo Nicola O. Lossky. Nasceu em Gottingen, Alemanha, em 8 de junho de 1903, pois seu pai lá se encontrava para completar sua formação universitária.
Realizou seus estudos superiores na Universidade de Petersburgo, seguindo com grande interesse os cursos do historiador da filosofia Leon Karsavin. Dos seus ensinamentos, recebeu um impulso determinante para suas futuras pesquisas sobre os teólogos ocidentais e sobre a tradição patrística grega.
Em 1923 foi expulso da Rússia juntamente com seu pai. Como a maior parte dos russos exilados, Vladimir também se estabeleceu inicialmente em Praga, onde o pai fora nomeado professor de filo. Lá seguiu os cursos de N. P. Kondakov, o célebre pesquisador de bizantinismo e historiador da arte iconográfica. Um ano depois, transferiu-se para Paris, iniciando seus estudos na Sorbonne, onde continua e aprofunda seus estudos sobre o pensamento medieval, sob a direção do maior especialista católico no assunto, Etienne Gilson. Com sua assistência, empreende em 1927 o estudo da doutrina mística de Mestre Eckhart, que deveria ser a sua tese de mestrado. Uma forte amizade o une a Eugraf Kovalevsky e entra na Confraria São Fócio com vistas a uma ortodoxia universal, capaz de revivificar as tradições ortodoxas da França dos onze primeiros séculos. Sua vocação já se encontra cristalizada: é a do encontro entre a tradição cristã do Oriente e a cultura ocidental da Idade Média. De modo particular, pretende prestar testemunho da Igreja dos seus pais na França.
Ao mesmo tempo, engaja-se também na vida eclesiástica da Ortodoxia no Ocidente. Em contraste com a maior parte dos exilados, em 1931 ele se pronuncia a favor do Patriarcado de Moscou. Em 1935, coloca-se entre os opositores de Bulgakov a propósito de sua "sofiologia". Depois de uma intervenção sua junto ao metropolita de Moscou, Sérgio, a doutrina de Bulgakov é condenada.
Casou em 1938, e teve quatro filhos
Em 1939, Lossky torna-se cidadão francês. Durante a Segunda Guerra Mundial, participa dos sofrimentos de sua pátria de adoção e da resistência contra o invasor.
Os acontecimentos ligados à guerra, todavia, não o impedem de prosseguir suas atividades de estudioso. Em 1944, publica a sua obra-prima, A Teologia Mística da Igreja do Oriente.
Em 1945, começa sua carreira de professor universitário. Ministra uma série de conferências na "École des Hautes-Études" da Sorbonne sobre a doutrina da visão de Deus na teologia bizantina, as quais seriam publicadas postumamente sob o título Vision de Dieu. Trabalhador incansável, continua suas pesquisas sobre Mestre Eckhart, que depois seriam reunidas numa obra também publicada postumamente, organizada por seus amigos, em especial Gilson, dois anos depois de sua morte.
Depois da Grande Guerra, o engajamento na vida de sua Igreja leva-o a dedicar-se também à atividade ecumênica. Em 1947, entra em contato com o mundo anglicano. No mesmo ano, participa da assembléia realizada em Oxford reunindo católicos, anglicanos e ortodoxos, e profere a memorável conferência intitulada "The Procession of the Holy Spirit in the Orthodox Triadology", na qual sustenta que o Filioque não é absolutamente um simples theologoumenon, como afirmara Bulgakov, mas sim a razão fundamental da divisão entre as Igrejas Ortodoxa e Latina. Expressão de suas preocupações ecumênicas são ainda diversos artigos sobre as propriedades da Igreja (sobretudo a catolicidade), publicados na revista do patriarcado de Moscou na França. Em 1956, sua atividade em favor da Igreja Ortodoxa é premiada publicamente: é convidado pelo Patriarca de Moscou, Alexis, a visitar a Rússia, terra de seus antepassados. Lossky atendeu ao convite com grande júbilo.
Em 7 de fevereiro de 1958, morre inesperadamente com a idade de 55 anos, quando o seu talento estava maduro para a produção de excelentes obras teológicas, tanto no campo histórico como no dogmático.

TEOLOGIA

A missão à qual os teólogos russos da Diáspora sentiram-se chamados foi a de conservar e transmitir ao Ocidente o grande e precioso tesouro do pensamento teológico da Igreja Ortodoxa, do qual eles eram os principais depositários. Entre aqueles que souberam cumprir mais brilhantemente essa missão importante deve-se colocar Vladimir Lossky.
Ele é autor de uma síntese teológica mais completa e sistemática do que a de Florovsky e, ao mesmo tempo, mais "ortodoxa", ou seja, mais fiel à tradição oriental, do que a de Bulgakov.
À sua síntese Lossky deu o nome de "teologia mística".
Lossky, como seu amigo íntimo Georges Florovsky, se opôs às teorias sofiológicas de Sergei Bulgakov e Vladimir Soloviev.
A obra teológica de Lossky parte dos mesmos princípios inspiradores da teologia de Florovsky: ela quer contrapor à "sofiologia" de Bulgakov o pensamento autêntico da teologia ortodoxa. Só que alcança resultados mais satisfatórios, na medida em que explicita mais claramente os princípios sobre os quais pretende edificar sua síntese e, em segundo lugar, na medida em que dá a essa síntese um desenvolvimento sistemático e completo.
O significado teológico de Lossky está ligado a uma exegese do misticismo da Tradição Ortodoxa. Ele afirmou em Teologia Mística da Igreja do Oriente que a Igreja Ortodoxa manteve suas dimensões místicas enquanto o ocidente perdeu-as depois do cisma Ocidente-Oriente. Ele cita muito do misticismo da Igreja Ortodoxa como expresso nas palavras da Filocalia, São João Clímaco, A Escada Divina, e vários outros como Pseudo-Dionísio Areopagita, São Gregório de Nissa, São Basílio Magno, São Gregório Nazianzeno, e São Gregório Palamas. Georges Florovsky nomeou a Teologia Mística da Igreja do Oriente de Lossky como uma "síntese neopatrística".
Os princípios fundamentais - os pilares em que se baseia a construção teológica de Lossky - são os seguintes:

1. A "apofaticidade": que justifica a qualificação "mística" que o autor dá à sua teologia. Lossky descreve assim a apofaticidade: "É um caminho constante do pensamento, que elimina progressivamente do objeto que quer alcançar qualquer atribuição positiva, para desembocar finalmente numa espécie de possessão por ignorância total daquele que nunca poderia ser um objeto de conhecimento. Pode-se dizer que é uma experiência intelectual da derrocada do pensamento diante daquilo que está além do pensável”.

2. As energias divinas, distintas realmente da essência divina sem estarem separadas dela: essas energias permitem a Lossky salvaguardar a transcendência absoluta de Deus e, ao mesmo tempo, manter intactas as doutrinas da graça incriada, da imago Dei, da visão de Deus e da "deificação". Segundo Lossky as energias divinas tratam-se de forças, ou seja, expressões dinâmicas da realidade divina, que representam o modo de existir do próprio Deus em relação ao que está fora dele. Elas são realmente distintas da essência divina, mas, ao mesmo tempo, são absolutamente idênticas a Deus. Por essa razão, conhecendo-se as energias divinas, conhece-se Deus; recebendo as energias divinas, recebe-se Deus.

3. A dupla economia (do Filho e do Espírito Santo): essa tese permite ao autor elaborar uma doutrina pneumatológica bem mais rica e substancial do que conseguiram os teólogos ocidentais, tanto católicos como protestantes. Lossky faz a distinção de suas economias na história da salvação: a do Filho e a do Espírito Santo. No sistema teológico de Lossky encontramos dois centros: Jesus Cristo e o Espírito Santo. Com efeito, segundo ele, nossa salvação é operada em parte pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e em parte pela Terceira. Há, portanto, uma economia soteriológica do Verbo Encarnado e uma outra do Espírito Santo. As duas economias "encontram-se na base da Igreja, ambas necessárias para que possamos obter a união com Deus". A economia do Verbo Encarnado refere-se somente à natureza humana, não às pessoas individualmente. Já a economia do Espírito Santo refere-se diretamente às pessoas em particular.

4. O conceito de pessoa: entendida como capacidade de renunciar à própria vontade, às inclinações da própria natureza. Com esse conceito, nosso teólogo ilumina os mistérios da Encarnação de Cristo e de nossa santificação. Um conceito-chave da teologia de Lossky, que propicia a solução de alguns problemas fundamentais de cristologia, pneumatologia, antropologia, eclesiologia e teologia trinitária, é o conceito de pessoa. Lossky conclui que a única definição satisfatória é aquela que descreve a pessoa em termos de kénosis. Com efeito, aquilo que mais caracteriza a pessoa é sua capacidade de subtrair-se aos instintos da natureza, às paixões e aos impulsos egoístas da vontade. "A perfeição da pessoa se realiza no abandono total, na renúncia a si mesma. Cada pessoa que procura se afirmar acaba somente na fragmentação da natureza, no ser particular, individual, que cumpre uma obra contrária à de Cristo".

OBRAS

A produção científica de Lossky não é muito vasta. Além de um certo número de artigos, ela abrange quatro livros: Teologia Mística da Igreja do Oriente (1944); Teologia Negativa e Conhecimento de Deus em Mestre Eckhart (1960); Visão de Deus (1962); À Imagem e Semelhança de Deus (1967).
Dessas obras, a mais significativa é sem dúvida a primeira: ela contém uma brilhante e vigorosa síntese do sistema teológico de Vladimir Lossky, o qual, sendo construído sobre o princípio da "apofaticidade", é chamado pelo autor de "teologia mística".
As três outras obras também abordam os problemas da teologia mística, mas não mais em termos sistemáticos e sim em termos históricos. A segunda, como diz o próprio título, é um penetrante estudo da teologia negativa de Mestre Eckhart. A terceira, Vision de Dieu, propõe-se a estudar o problema do conhecimento de Deus como ele foi colocado pela teologia bizantina. Seu objetivo é verificar se a distinção entre a "apofaticidade" da essência de Deus e a "catafaticidade" das energias divinas é uma invenção de Gregório Palamas ou uma doutrina que já tinha precedentes na Sagrada Escritura e na Patrística. Através de uma acurada análise dos textos da Escritura e do pensamento de alguns dos maiores Padres gregos, Lossky consegue estabelecer que a distinção entre a essência e as energias das operações divinas, tal como é ensinada por Palamas e pelos concílios do século XIV, "é a expressão dogmática da Tradição relativa aos atributos cognoscíveis de Deus que encontramos nos Capadócios e mais tarde em Dionísio, em sua doutrina sobre as uniões e distinções divinas, sobre as virtudes ou raios da treva divina, cuja distinção da essência dá lugar a dois caminhos teológicos: o caminho afirmativo e o negativo; um revela Deus, o outro conduz à união na ignorância".
A última obra, À L'Image et à la Ressemblance de Dieu, é uma coletânea de artigos em que o autor retoma e desenvolve alguns dos temas que mais lhe são caros (a "apofaticidade", o conceito de pessoa, a processão do Espírito Santo, a catolicidade da Igreja), investigando sua validade através do estudo do pensamento dos Padres orientais. De capital importância é o ensaio intitulado La Procession du Saint-Esprit dans la Doctrine Ortodoxe, tradução da conferência mantida em Oxford em 1947: contém a quintessência do pensamento de Lossky.

PENSAMENTOS DE VLADIMIR LOSSKY

"A distinção entre a essência e as energias - fundamental para a doutrina ortodoxa sobre a graça - permite que conserve seu sentido real a expressão de São Pedro: «partícipes da natureza divina». A união a que estamos chamados não é nem hipostática como para a natureza humana de Cristo, nem substancial como para as três pessoas divinas: é a união com Deus em suas energias ou a união pela graça que nos faz participar na natureza divina, sem que nossa essência se converta por isso na essência de Deus. Na deificação se possui pela graça, quer dizer nas energias divinas, tudo o que Deus tem por natureza, salvo a identidade de natureza, segundo o ensino de São Máximo. Se permanece criatura, convertendo-se simultaneamente em Deus pela graça, como Cristo seguiu sendo Deus ao converter-se em homem pela encarnação".

“A via negativa do conhecimento de Deus é uma démarche ascendente do pensamento, que elimina progressivamente do objeto que quer alcançar toda atribuição positiva para realizar finalmente uma espécie de apreensão pela ignorância suprema Daquele que não poderia ser um objeto de conhecimento. Pode-se dizer que é uma experiência intelectual do fracasso do pensamento diante de um além inconcebível. Com efeito, a consciência do fracasso do entendimento humano constitui o elemento comum a tudo que se pode denominar apofasia ou teologia negativa, quer seja dentro dos limites da intelecção, constatando simplesmente a inadequação radical entre nosso pensamento e a realidade que quer alcançar, ou quer deseje superar os limites do entendimento, prestando à ignorância daquilo que Deus em sua natureza inacessível o valor de um conhecimento místico superior ao intelecto - hyper noun”.

"A existência de uma atitude apofática, de uma superação de tudo aquilo que provém da finitude criada, está implicada no paradoxo da revelação cristã: o Deus transcendente torna-se imanente no mundo, mas também na imanência de sua economia, que leva à encarnação e à morte na cruz, ele se revela como transcendente, como ontologicamente independente de qualquer ser criado. Essa é a condição sem a qual seria impossível conceber o caráter voluntário e absolutamente gratuito da obra redentora de Cristo e em geral de tudo aquilo que é 'economia' divina, começando pela criação do mundo, a respeito da qual a expressão ex nihilo deve assinalar justamente a ausência de qualquer necessidade ex parte Dei, uma certa contingência divina, se podemos assim dizer, no ato da vontade criadora".

"É a diversidade absoluta das três hipóstases que determina as diferentes relações e não o contrário. Aqui, o pensamento se detém diante da impossibilidade de definir uma existência pessoal na sua diferença absoluta e tem que adotar uma atitude negativa para declarar que o Pai privado de início (ánarkos) não é nem o Filho nem o Espírito Santo; que o Filho gerado não é nem o Espírito Santo nem o Pai; que o Espírito Santo oriundo do Pai não é nem o Pai nem o Filho. Não se pode falar aqui de relações de oposição, mas apenas de relações de diversidade. Seguir nessa questão um caminho positivo e conceber as relações de origem de outro modo que como sinais da diversidade inexprimível das pessoas significaria suprimir o caráter absoluto dessa diversidade pessoal, ou seja, relativizar a Trindade e, de certo modo, despersonalizá-la".

"Se se quisesse introduzir aqui, em conformidade com a fórmula latina (do filioque), uma nova relação de origem, fazendo o Espírito Santo proceder do Pai e do Filho, a 'monarquia' do Pai, essa relação pessoal que cria a unidade e a trindade ao mesmo tempo, cederia lugar a uma outra concepção: a da substância una, na qual as relações interviriam para basear a distinção das pessoas, e a hipóstase do Espírito Santo seria apenas um laço recíproco entre o Pai e o Filho. Se se percebeu a tônica diferente das duas doutrinas trinitárias então se compreenderá porque os orientais sempre defenderam o caráter inefável, apofático, da processão do Espírito Santo do Pai, fonte única das Pessoas, contra uma doutrina mais racional que, fazendo do Pai e do Filho um princípio comum do Espírito Santo, colocava o comum acima do pessoal, uma doutrina que tendia a enfraquecer as hipóstases, confundindo as pessoas do Pai e do Filho no ato natural da expiração e fazendo da pessoa do Espírito Santo o laço entre ambas".

"Se Deus é verdadeiramente o Deus vivo da revelação e não a essência simples dos filósofos, então ele só pode ser Deus-Trindade. Essa é uma verdade primária que não pode estar baseada em nenhum raciocínio, porque toda razão, toda verdade e todo pensamento se apresentam como posteriores à Trindade, fundamento de qualquer ser e de qualquer conhecimento".

"A vida terrestre de Cristo foi um contínuo abaixamento: a sua vontade humana renunciava incessantemente àquilo que lhe era próprio por natureza e aceitava aquilo que era contrário à humanidade incorruptível e deificada: a fome, a sede, o cansaço, a dor, os sofrimentos e, por fim, a morte na cruz. Assim, pode-se dizer que, antes do fim da obra redentora, antes da ressurreição, a pessoa de Cristo tinha em sua humanidade como que dois pólos diversos: a incorruptibilidade e a impassibilidade naturais próprias de uma natureza perfeita e deificada e, ao mesmo tempo, a corruptibilidade e a sujeição voluntariamente assumidas, condições às quais a sua pessoa 'quenótica' submeteu e submetia sem pausas a sua humanidade livre do pecado".

"Assim, toda a realidade de nossa natureza decaída - inclusive a morte -, todas as condições essenciais que eram resultado do pecado e, como tais, tinham um caráter de pena, castigo e maldição, foram transformadas pela Cruz de Cristo em condições de salvação".

"Precisaríamos muito mais dizer que o Espírito Santo se cancela, enquanto pessoa, diante das pessoas criadas às quais ele dá a graça. Nele, a vontade de Deus já não nos é mais externa: ela nos dá a graça desde o interior, manifestando-se em nossa própria pessoa, até que nossa vontade humana permaneça de acordo com a vontade divina e coopere com ela na obtenção da graça, fazendo-a nossa. É o caminho da 'deificação' que termina no Reino de Deus, introduzido nos corações pelo Espírito Santo desde a vida presente. Isso porque o Espírito Santo é a unção régia que repousa sobre Cristo e sobre todos os cristãos chamados a reinar com ele no século futuro. Então, essa pessoa divina desconhecida, que não tem sua imagem numa outra hipóstase, se manifestará nas pessoas 'deificadas': sua imagem será a multidão dos santos".

"A kénosis é o modo de ser da pessoa divina enviada ao mundo, pessoa na qual se cumpre a vontade comum da Trindade, da qual o Pai é a fonte. As palavras de Cristo 'o Pai é maior do que eu' expressam essa renúncia 'quenótica' à própria vontade".

"Para que a teologia trinitária se tornasse possível, foi necessário que a apófase presidisse ao despojamento do pensamento, forçado a elevar-se a uma noção de Deus que transcende toda relação com o ser criado, absolutamente independente, naquilo que é, da existência das criaturas".

"O ponto final a que chega a teologia apofática (se é que se pode falar de fim e de chegada onde se trata de uma elevação para o infinito) não é uma natureza ou uma essência, nem tampouco uma pessoa, mas algo que supera ao mesmo tempo toda noção de natureza e pessoa: é a Trindade".

"A perfeição da pessoa se realiza no abandono total, na renúncia a si mesma. Cada pessoa que procura se afirmar acaba somente na fragmentação da natureza, no ser particular, individual, que cumpre uma obra contrária à de Cristo".

"Enquanto ser criado à imagem de Deus, o homem apresenta-se como ser pessoal, como pessoa que não deve ser determinada pela natureza, mas que pode determinar a natureza, assimilando-a ao seu Arquétipo divino".

"É-nos mais fácil imaginar a pessoa que quer, que se afirmar, que se impõe com sua vontade. Entretanto, a idéia de pessoa implica a liberdade diante da natureza; a pessoa é livre por natureza, não é determinada por ela. A hipóstase humana só pode se efetivar na renúncia à vontade própria, àquilo que nos determina e nos subjuga a uma necessidade natural. O individual - a afirmação de si na qual a pessoa se confunde com a natureza e perde a sua verdadeira liberdade - deve ser despedaçado. É o princípio fundamental do ascetismo: a livre renúncia à própria vontade, a um simulacro de liberdade individual, para recuperar a verdadeira liberdade, a liberdade da pessoa que é a imagem de Deus, própria de cada um".

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